domingo, 27 de março de 2011

Momentos.




Estão à espera, ao alcance da mão, de um telefonema, de uma súbita decisão, para se tornarem únicos inesquecíveis.
Alguns fáceis, acessíveis, grátis.
Outros, nem tanto, mas não proibitivos.
Jantar no Portucale é um deles.
Já sei o que me espera, mas a emoção nunca é menor, começa em casa com a escolha da indumentária:
Há que ir bem, muito bem, ainda que fossemos apenas dois a jantar, o que jamais aconteceu.
Arranjo-me com tempo, tento que o resultado esteja à altura das duas ou três horas plenas de rituais que solicitam todos os sentidos.

Exteriormente o edifício é horrendo. Uma torre de vinte e tantos andares, semi-revestida de azulejos, numa rua que desdiz o nome -- Rua da Alegria --  feia, de passeios estreitos, muito movimento de carros e edifícios anónimos, despersonalizados.

Mais se aguça o apetite.
É como, imitando Alice, passar para o outro lado do espelho, ou, através dum túnel hediondo, alcançar o espaço mágico de todas as maravilhas.

O Portucale situa-se no 23º andar.
Existe há décadas e, após a morte do seu responsável principal, o Sr. Azevedo, quase naufragou.
Mas salvou-se, ressuscitou, recuperou a majestade.
A vista é aérea sobre toda a cidade do Porto e para além dela, para Gaia, cujo horizonte, de tão distante, não é identificável.
A visão é, assim, apaparicada, logo que se entra e ainda "a procissão vai no adro..."
No ar, paira uma música de fundo, audível no ponto certo. Está lá mas não interfere.
A decoração é correta, mas não excessiva, nas suas tolhas de linho, nas flores frescas, na louça imaculada, nas tapeçarias que revestem uma parede.
Os comensais são, maioritariamente estrangeiros, canalizados pelos guias e almanaques turísticos.
O serviço é perfeito, com uma bateria de empregados que se move como se dançassem e para quem "o cliente tem sempre razão".
A comida, tipicamente portuguesa, abundante, aposta na excelência das matérias-primas.
As sobremesas, ai!, as sobremesas, de raíz conventual dilaceram no momento de optar -- apetece todas.
Ontem, noite de chuva torrencial, fotografar o exterior era impossível...
Que pena, tenho que lá voltar!
Tenho que reviver todas as emoções, toda a gama de prazeres que tornam único este momento.

Beijos Nina