sexta-feira, 22 de julho de 2011

INSTANTES

Se pudesse viver novamente a minha vida,
Na próxima, trataria de cometer mais erros ...
Não tentaria ser tão perfeito e relaxar-me-ia mais.
Seria mais tonto do que fui e, de facto, levaria poucas coisas a sério.
Seria menos higiénico.
Correria mais riscos, faria mais viagens, contemplaria mais  entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria em mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui, comeria mais gelados e menos favas, teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e proficuamente  cada minuto da sua vida; claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar atrás, trataria de ter somente bons momentos.Porque, se não o sabem, a vida é feita disso, só de momentos; não desperdices os momentos.
Eu era um desses seres que nunca ia a nenhuma parte sem um termómetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um para-quedas; se pudesse voltar a viver, viajaria mais leve.
Se pudesse voltar a viver, começaria andar descalço no princípio da Primavera e assim continuaria até se acabar o Outono.
Daria mais voltas no carrocel, contemplaria mais amanheceres e brincaria mais com crianças, se tivesse outra vez a vida por diante.
Mas, já vêem, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Jorge Luís Borges


("Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires24 de agosto de 1899 — Genebra14 de junho de1986) foi um escritorpoetatradutorcrítico literário e ensaísta argentino.
Em 1914 sua família se mudou para Suíça, onde ele estudou e viajou para a Espanha. Em seu retorno à Argentina em 1921, Borges começou a publicar seus poemas e ensaios em revistas literárias surrealistas. Também trabalhou como bibliotecário e professor universitário público. Em 1955 foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional da República Argentinae professor de literatura na Universidade de Buenos Aires. Em 1961, destacou-se no cenário internacional quando recebeu o primeiro prêmio internacional de editores, o Prêmio Formentor.")

Porque será que, só aos 85 anos, quando "... sé que me estoy muriendo ..."o escritor escreveu este texto?
Será que não aprendemos nada, nunca, e só tomamos consciência de que " a vida é feita de nadas...", quando já é demasiado tarde?
Os praticantes de ioga garantem que a consciência do efêmero é a sua maior conquista.
Por favor, aproveitem o fim de semana e sejam muito felizes.
Beijos,
Nina