segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Porto Palafita



De regresso de Cádiz, pelo Algarve, subindo em direção ao Norte, encontra-se, perto de Grândola , um desvio para Comporta, em pleno estuário do Rio Sado.

Seguindo o litoral do estuário, uma placa indica "Carrasqueira".
Vale a pena o desvio!

À nossa espera, está um porto de pescadores, cujos barcos repousam em margens pouco profundas.
Circundando-os há caminhos construídos em passagens precárias e suspensas, sobre as águas.

Algumas construções rudimentares, aguentam-se, também precariamente, com os "tornozelos" mergulhados no pacífico Sado.
É um quadro magnífico, inusitado, de uma beleza tocante.


Um grande cartaz previne que a zona é protegida.

Um emaranhado de estacas ergue-se, então, do lodo do rio.

Pescadores circulam,na faina.

A carga viva, palpitante, são caranguejos arrancados do fundo lodoso.

Uma espécie de ponte, de passadiço, permite a circulação sobre as mansas águas.

Os barcos aguardam, tranquilos, no balanço imperceptível do Sado.
Lindos, coloridos, batizados com nomes queridos, amuletos para momentos de perigo.

Aqui guardam-se tesouros.
São redes, armadilhas para a pesca, garantias de subsistência.

A ponte é frágil, precária, mas convida, desafia o atrevimento.

Um espelho, é o que estas águas são.
Paradas, permitem observar  a vida que no lodo palpita.
Tábuas sobre tábuas, remendos sobre fendas.


Uma pintura abstrata não seria mais ousada, na sua fuga ao senso comum.

Este, bem português , afirma, "Vou andando", numa ortografia torta, mas comovente.

Aqui, esclarecem-se as dúvidas.

E aqui, a localização geográfica, precisa, está registada.

Em frente, em margens alagadas, cultiva-se o arroz.
E assim, de repente, somos postos face a face com congeminações arquitetónicas cujas raízes mergulham bem lá atrás, na história da humanidade.
Caprichosamente, persistem aqui.

Beijos
Nina