sexta-feira, 6 de julho de 2012

Polvo



Com este título refiro-me aos moluscos marinhos, com oito braços, munidos de fortes ventosas, que ocupam um lugar de destaque na gastronomia tradicional portuguesa.
Faço este esclarecimento, para evitar confusões.
 É que não me refiro ao polvo oráculo, que durante as competições de futebol, previa, ao que dizem, infalivelmente, resultados.
Tão pouco me refiro  à série "la Piovra", cuja violência estarreceu mesmo os menos impressionáveis e cuja sinopse segue, para avivar as memórias:





"La Piovra" (1984 - 402m)
SINOPSECRIME
CORRUPÇÃO
E VINGANÇA
A Primeira Série Completa
3 Discos, 6 episódios
O inspector da Polícia Corrado Cattani é transferido para a Sicília com a mulher e a filha de doze anos, Paola. Quando começa a investigar a Máfia e descobre uma rede de tráfico de narcóticos cujas transacções se escondem sob a capa de negócios legais com o apoio de um banco importante, em breve se torna alvo de ameaças. Quando a sua filha é raptada, Corrado vê-se forçado a retirar as queixas contra o suspeito principal, apesar do descontentamento dos seus colegas. Devolvem-lhe a filha, mas o estado de choque em que se encontra após ter sido violada, leva-o a exercer uma vingança implacável sobre os mafiosos.



Pois bem, esclarecidas as dúvidas, voltemos ao polvo.

Não que seja particularmente apreciadora da iguaria, mas, de vez em quando, para variar, lá me aventuro na preparação do dito, a medo, com muito medo.
É que a criatura é traiçoeira, mesmo depois de morta, mesmo depois de cozinhada por largas horas ou escassos minutos.
É um bicho imprevisível que tanto pode resultar deliciosamente tenro e suculento como, pelo contrário, virar uma sola elástica, uma borracha intragável, um monte de músculos férreos que nada nem ninguém disseca.


É muito chato!
Já segui todas as dicas para contornar o risco:
- Cozê-lo com uma cebola. Quando a cebola se apresentar cozida, assim estará o bicho !
- Cozê-lo em pouca ou nenhuma água, só com um fio de azeite!
- Cozê-lo depois de lhe aplicar uma brutal sova, desfazendo-lhe a rigidez muscular, com o martelo de madeira, sobre uma tábua!
- Cozê-lo congelado!
- Descongelá-lo e congelá-lo sucessivas vezes antes de o cozinhar!


Nada resulta sempre, pelo que concluo que estas técnicas só funcionam quando a natureza do animal o permite.
Este bicho prova a força das características inatas contrapondo-se ao poder do contexto.
Repito, é um grande chato.
Tempos houve em que cortámos relações, farta eu de ser escarnecida e , o que é mais grave, sem almoço para alimentar a família.


Entretanto, descobri numa loja de congelados uma variedade pomposamente e , convenhamos, também repugnantemente designada por polvo-vitela! 
Assim mesmo!
O certo é que a aposta é segura.
O bicharoco coze até que, através de um garfo, se comprove que está no ponto.
Depois é só aplicar qualquer uma das dezenas de receitas que o utilizam como matéria-prima.


Ao almoço, foi vedeta.
Estufado com legumes e temperado com um enorme ramo de hortelã!


Muito, muito bom!


Beijos
Nina