domingo, 15 de julho de 2012

Champarrião, caldo verde, petiscos ...



Caçana é nome de mercado, de mercearia, mas, atualmente, apenas de tasquinha.
Fica lá no alto da Serra de Arga, em S. Lourenço de Montaria, e é ponto de passagem obrigatório para os andarilhos.
A especialidade é o Champarrião.



Servido numa imensa malga de barro, de onde, com uma pequena púcara, se extraem porções à medida das sedes ou das gulas presentes.

Da Wikipédia extraí a definição:

Champarrião é uma bebida forte, festiva e tradicional do norte litoral de Portugal. Trata-se de uma bebida de vinho verde tinto misturado com cerveja e açúcar[1] (pode levar pau de canela).

A princípio desconfia-se da proposta, adocicada e muito perfumada, desfasada do caldo verde onde nadam generosas rodelas de chouriço caseiro. À partida, a sopinha preferiria a companhia de um tinto de qualidade ... Ainda assim, aventureira, embarquei no desafio.
Bom, é muito bom, mas traiçoeiro, falsamente inocente com o seu cheirinho a canela. Há que bebê-lo com moderação, com modos, com muito respeito. Assim,se assim se proceder, é apenas bom, não liquidando os afazeres previstos para depois de almoço. 


O caldo verde, uma delícia.
Quente, come-se assoprando cada colher, mas o frio do alto da serra aconselha o petisco.
Acompanha com broa caseira, rústica, genuína, sem modernices de pão quente ou supermercado.
As propostas eram três:
Rojões, moelas e fêveras de porco.
Sôfregos, achámos que sim, que podiam vir os três petiscos.
Porém, avisada, a cozinheira garantiu que era demasiado, que não senhor, que não conseguiríamos dar conta do recado e, senhora da situação, trouxe, apenas, as duas primeiras ofertas.

Coberta de razão, verificou que tínhamos mais olhos que barriga e que só os (deliciosos, divinos, sublimes ...) rojões foram totalmente devorados.
As moelas, não. Não porque não o merecessem, mas sim por incompetência absoluta dos comensais.
Então, não tem nada que saber ...
A Caçana é refúgio seguro e delicioso para os mais intrépidos exploradores.

Beijo
Nina

De volta ...


... depois de 5 dias longe de casa, trago recordações, trago fotos, trago novas vivências.
Na última quarta-feira, deixei o Porto em direção ao norte. Fui para Âncora onde me instalei, construindo aí a base para todas as expedições.
Conheço o litoral ao milímetro. Visito-o e revisito-o, mas, quanto ao interior fora avistado, até agora, apenas como uma sucessão de montanhas vistas ao longe.
Recebera, há tempos, sugestões de descobertas, agora postas em prática.
Parti para a Serra de Arga.


Do seu cume a vista é deslumbrante .
De um lado o vale do rio Âncora, do outro, o vale do rio Lima.

Sem problemas, mas, à cautela, de jeep, o percurso vai-se fazendo.
Há, contudo, troços inacessíveis que, só a pé, quase a corta-mato, se realizam.


Refiro-me, por exemplo, aos momentos em que se ouve o som da água que, escondida, desliza encosta abaixo.
Aí, há que atravessar o mato para aceder a este quadro!

De uma altura considerável, despenha-se a corrente.
Estamos em Pincho, e, para o alcançar, exige-se equilíbrio e destreza sobre as pedras que pavimentam o caminho selvagem.
  

Mas, vale tanto a pena ...

Vale cada ameaça de tombo, de mergulho indesejado no riacho.

O local é paradisíaco ...

... de filme, de cenário ...

... e não entendo como, só agora, me foi dado admirar.


As águas cristalinas deslizam, vertente abaixo, rumo a aldeias que dela dependem para a rega dos campos.

Um dia não basta para explorar as margens incrivelmente puras deste riacho.
 Creio firmemente que esta pureza se deve à muito difícil acessibilidade.
É pavimentar um caminho e, prontamente, aparecerão os resultados da presença humana em que, infeliz e fatidicamente somos peritos. Se tal ocorrer nada, nunca mais, será como dantes e adeus paraíso.

Perto, uma povoação de nome Arga de São João, perdida no meio da encosta, guarda a estrutura desta construção que um dia foi mosteiro:


Pena, muito pena que se encontre assim, abandonada, entregue à ação demolidora do tempo.

Apenas este apelo, confiante na bondade humana, procura suster o descaso.


Nas imediações subsiste esta ponte.
Chamam-lhe, os locais, a ponte das traves, embora, na realidade, seja toda ela construída em pedra, incluindo o pavimento que, miraculosamente sobrevive em lajes e balaustradas graníticas.



Vista do alto, a ponte mistura-se mimeticamente com a paisagem.
De referir que, igualmente, o seu acesso é penoso, o que, também igualmente, lhe garante a sobrevivência incólume.
 O dia esgotou-se.
Apetecia o aconchego do regresso à base, a Vila Praia de Âncora, que, fez questão de nos brindar com um ar limpo e silencioso acompanhado por um doce crepúsculo.

No porto dos pescadores, em paz, os barcos aguardavam, não sendo ainda chegada a hora da faina.

Foi a recepção perfeita para os exaustos exploradores.

Beijos
Nina