quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Quando o telefone ...

telefone



... essa conquista do progresso, se pode tornar um pesadelo.

Explico:
Não há menor dúvida sobre a enorme comodidade que o telefone garante. Não há!
Mas, como tudo, aliás, este conforto paga um preço.
O telefone é invasivo. Não precisa de perguntar se pode entrar. Já entrou. Impõe-se, sempre que toca, independentemente da disponibilidade de quem é atingido pelo seu toque.
Daí a necessidade de memorizar números.
Memorizar aqueles que, à partida, garantem minutos, às vezes horas, de tormento.
Há que memorizar números!
Alguns pertencem a seres detestáveis de quem se deseja distância, muita distância, ainda que só auditiva.
Desses, tenho um ou dois, que jamais esqueço.
Há ainda os outros. São pertença de gente sem noção do tempo, ainda que bem intencionada.
Falo de gente que engoliu um disco, que fala ininterruptamente, que só se ouve, que precisa de um ouvido para despejar a verborreia, o que é gravíssimo, quando esse ouvido  pertence à minha pessoa.
Nessas ocasiões, o desespero invade-me.
Estou eu, na minha paz, a preparar o jantar, quando o trim trim se faz ouvir.
Olho o número. Não conheço. Atendo. Arrependo-me na hora.
Até gosto do dono(a) daquela voz. Gosto.
Não gosto é do que se segue!
Um horror, um suplício, em que me limito a ouvir um discurso que rapidamente se transforma em blá blá oco de conteúdo. A tortura prolonga-se, infindável. Dela nada retenho para além desespero, a que acabo por pôr fim sempre abruptamente, reconheço, sempre sem jogo de cintura, dado o estado irracional a que a situação me conduz.
O último episódio ocorreu ontem. Em cima da hora de jantar. Estava cansada. A tarde fora atribulada. Pensava-me protegida dentro de quatro paredes. Erro meu. O elo mais fraco da minha segurança, o telefone, fora descurado. Paguei o preço, um altíssimo preço. Quase uma hora de sofrimento de que escapei sem elegância.
Que chatice!

Beijo
Nina