terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Se eu nascesse outra vez ...





... escolheria o campo, não a cidade, para minha localização.
Tenho uma visão romântica, quase nostálgica e saudosista de uma realidade que nunca experimentei. Por isso, me seduzem as plantas e brinco à jardinagem.
Hoje, que a chuva deu tréguas durante a tarde, resolvi ser agricultora.
Herdei uma enorme orquídea, velhinha com quase oito anos, que resistente e resiliente, mirrava num vaso que mal comportava a sua teia de raízes.
Já fizera o diagnóstico:
-Era necessário transplantá-la!
Esta tarde, pois, meti mãos à obra.
Foi um parto difícil.
Desenvasá-la do recipiente que a estrangulava exigiu determinação e técnica...  fórceps, materializados num gancho que, em alavanca, a forçava a saltar da prisão. Em vão! Não saía!  O que me empurrou para a cirurgia final, digamos, para a cesariana.
Abri, num rasgão total, o vaso e a planta libertou-se.
Era só raízes, numa teia apertada, crescendo sobre si própria, num emaranhado de grossas cordas.
Com a tesoura de poda ( sim, porque eu tenho tesoura de poda...) cortei os apêndices desnecesários, dividindo em três aquela amálgama feroz e quase estéril.
Depois, com composto orgânico e substracto para orquídeas, ( que, prevenida e teórica, antecipadamente adquiri), replantei três vasinhos que, tenho a certeza, serão um êxito.
Usei luvas, claro, que sou agricultora com manicure.
Ainda assim, quando as retirei, vi com tristeza, que as minhas belas unhas se ressentiram da tarefa.
Agora, horas passadas, tenho uma sensação esquisita, quase dolorosa, nos músculos das costas, sensação essa pouco adequada a quem suspira por um quintal, um jardim, uma casinha no campo onde possa comer o que cultive.
Será falta de prática ou não faço ideia nenhuma do que falo?
Será que a perspectiva romântica da vida no campo, na realidade, estraga as unhas, mancha as mãos e provoca dores nas costas?
Será que quero mesmo ser agricultora?
Será?

Beijo
Nina