quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Dióspiros


Gosto tanto de dióspiros , que resolvi dar-lhes  tempo, espaço e visibilidade!

Nas minhas distantes memórias de criança, o dióspiro surge envolto numa atmosfera de certa repugnância!
Eu era uma enjoada - só gostava de bananas!
 E os dióspiros com a sua suculenta polpa laranja, desfazendo-se num creme quase liquefeito, horrorizava-me! 
De tal modo que nunca provei! 
Recusava-me.
 E odiava sem nunca ter experimentado, como só as crianças sabem odiar, com um quase nojo, igual ao que dedicava a uma inúmera quantidade de alimentos ... peixe, sopa, vegetais, feijão , sendo estes apenas os que de momento me ocorrem, mas que servem para perfeitamente caracterizar a criaturinha difícil que então eu era.

Feita que foi esta introdução - que apenas prova como, às vezes, os sapos viram príncipes - no caso princesas, princesas com boa boca que gosto de (quase) tudo e tudo me sabe muito bem - foquemo-nos nos dióspiros - que a isso venho!

Assim que os vejo à venda, alucino!
Mesmo!
E desato a comprar!
Às caixas para que não se me acabe a reserva.


Às vezes trago-os maduros, maravilhosamente maduros, prontinhos a ser comidos. Outras vezes vêm mais verdes, mais durinhos...
- Leve assim que amadurecem rápido e não se estragam na viagem - aconselha a vendedora.
Obedeço.
Porém, não devia sem  antes me esclarecer.
É que existe uma variedade que não amadurece, isto é, permanece dura ad aeternum, que é como quem diz - até à eternidade!

Como assim?
Como é possível?
Como assim sabotaram indecentemente o objeto da minha gula?
Então não é que foi criada uma variedade a que chamam dióspiro maçã?
Cruzes!
Credo!
Odeio!
Definitivamente, odeio (como só as crianças enjoadas sabem odiar ...)



Para quem não conhece, nunca ouvi falar ou nunca viu ...

Assim se apresenta, farsante!
Parece dióspiro, mas não é dióspiro!
Parece delicioso, mas não é delicioso!
É apenas uma versão mentirosa do paradigma  da delícia que é o verdadeiro, o genuíno dióspiro.
Isto, esta coisa é o tal dióspiro maçã.

Comprei uma enorme caixa.
Guardei-os esperando que amadurecessem.
Estranhei.
Nunca mais amadureciam.
E então fez-se luz:
- Tinha sido enganada, vilmente enganada, constatei - quase com lágrimas nos olhos!

Que fazer?
Olha ...


Um cheescake ...

... um cheesecake de dióspiro, inspirada pela PRATA DA CASA!
Obrigada, Márcia!


Com os restantes, seguindo a receita de compotas da Bimby, preparei esta  à qual acrescentei dois kiwis receando a excessiva doçura.




Pronto!
Aprendi a lição ... leiam nos meus lábios:
-Dióspiro maçã não é o mesmo que dióspiro!
Entendido!?

Vamos então aproveitar os verdadeiros, os autênticos, os legítimos dióspiros que nos esperam em qualquer pomar ou frutaria ...
Já agora, desaconselho as grandes superfícies - lugar ideal para todos os equívocos.

Beijo
Nina