É pequenina, de olhos verdes e cabelo curtinho.
É assim a Dona Maria!
Conheci-a há um ano, quando precisava de uma pessoa que viesse diariamente fazer a limpeza da casa e tratar das roupas. Contratei-a por necessidade absoluta, face à minha incapacidade de dar conta do recado sozinha.
Mas contratei-a, sem entusiasmo. Sabia-me bem o silêncio da casa, depois do calvário vivido com a última colaboradora, uma possante ex-varina que lançava a confusão, o caos e a destruição por onde passava.
Curiosamente, também se chamava Maria, mas "só Maria", não precisando lá do Dona para nada.
Dizia-me, quando após um qualquer dos desastres domésticos, me via impaciente, em vias de a despedir:
Oh! senhora, eu preciso muito do emprego -- e eu amolecia, antes dela, no mesmo dia, e poucos minutos após as lamúrias, partir um candeeiro do teto da cozinha ou derramar de um balde de água numa carpete.
Era assim, por assomos de loucura e depois acalmava por uns tempos.
Um belo dia disse-me que tinha uma irmã a trabalhar na Alemanha e que, como o marido tinha perdido o emprego, iam os dois tentar a sua sorte por lá.
Foi um alívio.
Já tinha desculpado tanta asneira e como convivia com ela há três ou quatro anos, já quase me habituara à louca da casa.
Dei-me, então ao luxo de não ter ajuda, durante umas, poucas, semanas e, repito, era mesmo bom, mas impossível de aguentar.
Foi então que conheci a Dona Maria.
Nunca pensei vir a encontrar, neste papel, uma pessoa assim, silenciosa, discreta, bem-educada.
Também tem tido os seus acidentes, mas fica tão sentidamente pesarosa, que eu não consigo decidir-me se devo repreendê-la ou consolá-la.
Outro dia apareceu com umas flores, porque "fazia um ano que estava connosco".
É assim, a Dona Maria!
No entanto, a vida não a tem tratado bem:
Até há bem pouco tempo era dona-de-casa, mãe de dois filhos universitários, casada com um pequeno comerciante. Sem que nada o fizesse prever, foram vítimas de uma burla contabilística e perderam tudo o que tinham amealhado durante uma vida. Para piorar uma situação, já de si terrível, ao marido foi detetada uma doença do foro oncológico, da qual, felizmente, parece ter recuperado.
É uma grande mulher, uma super mulher, uma lady que não perde o aprumo, que não cultiva a auto-comiseração, arregaça as mangas e vai à luta, mas sempre elegante, limpa e aprumada.
É assim a Dona Maria!
Beijos,
Nina