... existem restaurantes para fumadores e restaurantes para não fumadores, embora os primeiros tendam a desaparecer, também, na minha modesta opinião, deveriam existir salões de cabeleireiro para faladores e não faladores.
Mas não existem, com grande pena minha.
Fui ao cabeleireiro.
Destinei a tarde para o efeito, pois, uma trunfa como a minha, exige tempo e vagares, ainda mais quando a solicitação é de "madeixas em todo o cabelo".
Para quem não sabe, de dois em dois meses, acerto a cor apenas na região frontal. Cabeça toda, é obra para 3 horas e só me sujeito ao suplício duas vezes ao ano.
Pronto, hoje foi dia de suplício.
Às 14h 30m, lá estava, com vez marcada e tudo.
Encontrei o estendal de apetrechos prontos para me serem aplicados, que a moça é de boas vontades e procura agradar-me.
Sentei-me e abri o Ipad na tola pretensão de ser deixada em paz, entregue aos meus pensamentos.
Qual quê?
Ali, as pessoas interagem, conversam, desabafam, dão palpites e pareceres, trocam confidencias.
É assim!
É esta a natureza de um salão de cabeleireiro.
Chego a duvidar de que a sua função principal seja tratar os cabelos... Vá! Admito que seja, mas, em partes iguais com a conversa.
Juro que não tenho a mania da superioridade. Juro que sou humilde e tolerante. Que sorrio e abano a cabeça, em sinal de concordância... |
... mas, quase em transe, suplico que me esqueçam, que me ignorem, que me desprezem. |
Não consigo entrar no espírito da coisa, por pura limitação da minha parte. Não sintonizo na mesma onda, de onde resulta um diálogo de surdos. |
Tenho para mim que me consideram lerda, lerda, definitivamente lerda, muito mais do que presumida.
E eu ali, bombardeada por ruído que não descodifico, chinesa no meio de finlandeses.
Nem o Ipad, nem o livro que ostensivamente desfolho, nem as revistas cor de rosa me salvam.
Suposto é interagir!
Por isso olho sem ver e ouço sem ouvir, num desespero de a quem apenas apetece perguntar:
-Porque não se calam?
Procura-se cabeleireiro para NÃO FALADORES!
Beijo
Nina