O crochê Também faz parte das atividades de
férias, ainda que não se trate de o fazer, mas de o desfazer, que é
o que me ocupa de momento.
Acontece que, bem guardado nas
profundezas de uma gaveta, jazia este horror:
Uma túnica tamanho XXXL, num amarelo que provoca tonturas e náusea. |
Não era previsto que a obra resultasse
deste quilate...
Nem pensar, embora a escolha da cor,
reconheço, tenha sido arrojada, mas, ainda assim, não era suposto
que o resultado fosse este - uma coisa amarela, gema de ovo, onde
caibo eu e outra ou outras, igual, ou iguais a mim … e, no entanto,
asseguro, segui rigorosamente as instruções, reproduzi uma amostra,
contei e recontei os pontos.
Tudo em vão! O horror está aí, em
toda a sua plenitude, impossibilitando o uso, a oferta, o empréstimo,
o que quer que seja que não seja desfazer tudo.
Sinto-me poderosa, implacável, recolocando ordem no caos! |
O que custa é descoser as costuras,
porque, feito isto, é quase libertador puxar pela ponta do fio e ver
o novelo crescer.
É assim como, suponho, partir louça
num momento de irritação, ou descarregar a frustração num saco de
pancada, como treinam os pugilistas.
Noutros tempos, não me daria ao
trabalho.
Impossibilitada de oferecer esta
monstruosidade sem ofender os sentimentos de quem a recebesse, o seu
destino seria o caixote do lixo.
Hoje, porém, mais focada no contexto,
mais alertada para a reciclagem, divirto-me com esta tarefa.
É quase como o desfazer do bordado de
Penélope, que assim adiava uma ligação indesejada.
Os meus motivos são,
como já referi, bem mais prosaicos, mas, para mim, valiosos que
cheguem para continuar o destrabalho.
O destino que darei a este fio é, para
já, indefinido, mas, tenho a certeza que me ocorrerá qualquer
coisa.
É só deixá-lo sossegado num canto,
que ele próprio ganhará pernas, asas e objetivo.
Depois, vou-me a ele.
Beijo
Nina