Continente é o seu nome.
Continente para tão escasso conteúdo?
Sim!
O nome foi-lhe atribuído pelos donos
fortuitos, eles sim, proprietários de um café com pretensões a
essa dimensão, ostentando esse nome.
Todas as manhãs o encontro.
Antes da praia, é paragem obrigatória
para tomar café, ler o jornal e aceder ao blog, disponível por
WIFI.
Foi, portanto, assim que conheci o
Continente, o de quatro patas, um puríssimo exemplar da linhagem
rafeira.
Primeiro foi um abanar de cauda a que
correspondi com uma tímida aproximação de mão que se transformou
em afago.
Depois, alimentei o seu comprovado fundo
Pavlovniano e, embrulhado num guardanapo, passei a comprar a sua
afeição com uma fatia de fiambre.
Neste momento, já me saúda de longe,
com a ventoinha da cauda.
E eu gosto.
Gosto deste flirt combinado em que eu
compro o afeto e, em troca, sou reconhecida e se calhar até
desejada.
Falo em flirt, não em paixão!
É que nos idos da minha infância,
incauta e inocente, recebi de um gato (sei agora que estava no
cio...) um profundo ferimento numa perna, cuja cicatriz perdura, na
perna e na alma.
Diz quem sabe que, aberto o coração
ao afeto de um cão, a retribuição é de tal forma intensa, de tal
forma plena, de tal forma incondicional, que paga todas as
contrapartidas.
Acredito.
Já testemunhei essa capacidade de
tapar buracos na alma, com um agitar de cauda, com a receção
efusiva, sentida, sincera que dispensam a quem os acolhe.
Um dia ainda vou ter um cão.
Vou amar um cão.
Vou deixar-me amar em plenitude por um
cão.
Um dia...
Para já flirto com o Continente.
Beijos
Nina