... sem se fazer esperar, sem se anunciar, a beleza entra assim nas nossas vidas ...
Quando são bons, a sensação é única, avassaladora, como uma onda desgarrada que, de repente, invade a terra.
Então a felicidade, no seu estado puro, por definição efémera, inunda e transborda.
Pode ser um nada. Uma orquídea inesperada que cabe, direitinha, num contentor especial.
E onde era vazio, faz-se luz, resplandece. E o olhar faminto persegue a imagem. Isso é felicidade.
Alojou-se neste ninho único, tão especial. Uma velha terrina em faiança, com mais de 100 anos, tocada pelas mãos de muitas gerações de mulheres da minha família. Um ninho digno, diria! |
De repente... |
... assim tão de repente, encheu de luz o meu chão. |
E, mesmo quando, de repente, o inesperado anuncia catástrofe, feito murro no estômago, pode, ainda assim, ser pintado com as mais belas palavras, como fez Vinicius:
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
Beijo
Nina