sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O meu marido está com gripe! (Ai! Ai! ...)

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto, Já vejo a morte, nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes, fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes, nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão-de-ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes, que vou morrer.

ANTÓNIO LOBO ANTUNES


Só um génio como ALA poderia fazer este retrato, meio cómico, meio cruel que se aplica como uma luva aos nossos amados e enfermos maridos.
 Os homens são assim!
Tenho um amigo pediatra que subscreve esta tese com a maior veemência. Segundo ele, quando nascem gémeos de sexos diferentes, a menina é sempre mais forte e mais vivaça. No decorrer da infância comprova esta inevitabilidade.
Lobo Antunes, para além de escritor genial, eterno candidato ao Nobel da Literatura, é médico de formação e psiquiatra por especialização, possuindo, portanto, as ferramentas específicas para desmontar objectivamente este tipo de comportamento.
Está-lhes no ADN, não há nada que eles ou nós possamos fazer.
A nós, mulheres, na nossa infinita sabedoria e tolerância, só nos resta apaparicá-los.

Beijos, Nina