sábado, 10 de novembro de 2012

De repente ...


... sem se fazer esperar, sem se anunciar, a beleza entra assim nas nossas vidas ...



Aprendi que é assim que os grandes acontecimentos surgem. Para o bem e para o mal. É assim. Sem se fazerem anunciar.
Quando são bons, a sensação é única, avassaladora, como uma onda desgarrada que, de repente, invade a terra.
Então a felicidade, no seu estado puro, por definição efémera, inunda e transborda.
Pode ser um nada. Uma orquídea inesperada que cabe, direitinha, num contentor especial.
E onde era vazio, faz-se luz, resplandece. E o olhar faminto persegue a imagem. Isso é felicidade.

Alojou-se neste ninho único, tão especial.
Uma velha terrina em faiança, com mais de 100 anos, tocada pelas mãos de muitas gerações de mulheres da minha família.
Um ninho digno, diria!

De repente...

... assim tão de repente, encheu de luz o meu chão.
É assim, repito, de repente, para o bem ou para o mal, que o mais importante acontece:

E, mesmo quando, de repente, o inesperado anuncia catástrofe, feito murro no estômago, pode, ainda assim, ser pintado com as mais belas palavras, como fez Vinicius:

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. 

De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 

De repente, não mais que de repente 
Fez-se de triste o que se fez amante 
E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 
Fez-se da vida uma aventura errante 
De repente, não mais que de repente.

Vinicius de Moraes




Beijo
Nina