segunda-feira, 30 de maio de 2011

Louca, eu?

Receio que sim.
Fora da onda, dessintonizada, extraterrestre ...
Então, ouçam:
Esta manhã, após a sagrada caminhada, ritual incontornável, instalei-me na minha esplanada de sempre, sobre o mar, onde "é  um café, se faz favor!" e o jornal diário para, principalmente, ler artigos, evitando a todo o custo as delícias políticas com que nos bombardeiam, degustando meia horinha de tranquilidade e repouso.
Na marginal circulam empenhados os caminhantes, transpiram e arfam os corredores, passeiam avós ou mães com carrinhos de bebé e os donos de cães matam dois coelhos com uma só cajadada: queimam calorias e, pela trela, exercitam os canídeos, salvo aqueles que,dado o seu exíguo tamanho, são deixados à solta, libertos de trela.
Observo-os, distraída.
Hoje, porém, algo quebrou a mesmice.
Uma algazarra súbita levantou-se frente aos meus olhos espantados:
Um cachorro mínimo, descabelado, pesando aí 800 g, agarrou-se como um tigre esfaimado à perna de um transeunte, rosnando, espumando e, finalmente, guinchando de dor ( por esta ordem!).
Os guinchos foram provocados pelo sopapo que o dono da perna lhe desferiu, para se libertar.
Acontece que a fera tinha dono, melhor dizendo, dona, uma senhora  muito "bem" que, possessa, tentava justificar o ataque   " foi a primeira vez! Nunca atacou ninguém!"e acalmar o cachorro, que , qual esfregão esfiapado, teimava em escapulir-se.
Mas havia baixas!
O dono da perna, de calças arregaçadas, exibia uma escoriação rosada  perto do tornozelo.
Havia que socorrer os feridos!
O dono da esplanada acorreu com os primeiros socorros, numa garrafa de alcoól que despejou no membro quase mutilado e um penso autocolante que colocou com a intenção de prevenir futura e fatal ( quem sabe?) hemorragia.
Despachada que foi a mais vital prioridade, urgia tomar medidas legais:
- Quero uma indemnização!
- Preciso de ser visto por um médico!
- Onde está o boletim de vacinas do cão?
Exigia, em catadupa, a vítima.
Então, aquela senhora tão chique, tão preocupada, tão consumida com a ocorrência, ouvindo falar em custos e vacinas, respondeu:
- O cão é mais limpo que o senhor!
E desapareceu sem deixar rastro!

Beijos,
Nina