domingo, 8 de dezembro de 2013

Canja de galinha!

Na sabedoria popular, as virtudes da canja de galinha são  um dado adquirido.
Como as cautelas e os caldos, as canjas de galinha nunca fizeram mal a ninguém e, como se sabe, eram panaceia para uma imensidade de mazelas, desde as constipações e gripes, até ao tratamento retemperador dado às parturientes que, noutros tempos, quando havia tempo ( e parturientes que, dada a baixíssima taxa de natalidade, quase se extinguiram), durante um mês, eram alimentadas com a sopinha milagrosa.
Estudos recentes parecem comprovar o poder anti-inflamatório do caldinho!
Pessoalmente, acho imensamente retemperadora, a canja, quando, como agora, em estado pós-gripal, nada me apetece, como com gosto, uma canjinha!
Associo-a, ainda, a tratamento aconchegante da alma, mais ainda do que o chá, de que sou fervorosa apreciadora.



Na receita tradicional, dizem que importada da China, a canja era preparada com arroz.
 Porém, prefiro-a com massa, de letras, se possível, num mergulho delicioso na minha infância.
Bem quente, com umas folhinhas cheirosas de hortelã ou manjericão, é um colo, um mimo, um afago.

A galinha, bem cozida, é desfiada, flutuando, harmoniosamente entre "eles, emes, tês, e todas as letras do alfabeto"

Não como regularmente canja. Deve ser por isso que me sabe tão bem quando a preparo.
Curiosamente, esta associação da canja ao bem-estar é um conceito muito amplo e não apenas português.
Neste momento, encontro-me mergulhada na ação de um "thriller"  inglês com tanto de cativante quanto de assustador. Nele, a protagonista, uma mulher com distúrbio obsessivo-compulsivo, vítima de violência doméstica, encontra, a dada altura, apaziguamento para a sua angústia, precisamente na canja.
A leitura desta passagem de "O buraco mais escuro" despoletou em mim a vontade irreprimível de comer canja.
Fui para a cozinha e improvisei.

Piquei  uma cebola e deixei que fritasse ligeiramente em azeite.
Acrescentei água e, quando ferveu, juntei a (parte da) galinha até cozer completamente.
Retirei a pele e os ossos e desfiei.
Na água da cozedura lancei uma mão cheia de massinha de letras. Temperei com sal e juntei a ave.
Servi com umas folhinhas de manjericão.
E confirmei:
- É absolutamente deliciosa e reconfortante, mesmo quando preparada assim, simplezinha, sem imaginação, sem pretensões!

E um ato da mais elementar justiça, tecer-lhe os elogios que merece.

Beijo
Nina