segunda-feira, 3 de março de 2014

1060 - Ai que prazer


    ... não cumprir um dever!
Só agora, muitas crises de culpa vencidas, consigo deixar que esta delinquência me encha de leveza!
Não cumprir e daí retirar recompensa!
Só agora, tola que eu fui!
Mas agora sim! Dou-me ao prazer do incumprimento.
Livro chato é livro arrumado ao fim de 10, 20 páginas!
Gente chata, é gente evitada a qualquer custo!
Normas e regras , se chatas, são regras e normas transgredidas!
Um alívio tal, que só vivido para entender!

Então, há milénios atrás, interiorizei - obrigada mamã, obrigada freiras do meu primeiro colégio - nada de iniciar um trabalho, um projeto, uma tarefa, sem concluir a anterior.
Normas, normas, normas!

Ao invés do prazer esperado, enchia-me de nervoso, uma ansiedade galopante de por ponto final ao infindável, interminável, peçonhento lavor entre mãos. O que a princípio fora deleite rapidamente se transformava em punição de que só me livraria quando dado o último ponto, quando lida a última página, quando trocado o último beijo de despedida.

De repente, não sei quando, não sei como, libertei-me.
Assim! Num estalar de dedos.
Começo sem terminar, abandono o livro a meio, despeço  gente chata!
Um alívio!
Uma libertação!
E, o mais importante, sem resquício de culpa!
Sou feliz no meu incumprimento, como Pessoa!-- Perdão, mil vezes perdão pela ousadia da comparação! 

A camisola/blusa verde água avança!
Mas avança ao meu ritmo, ao sabor do meu apetite que não se trata de "tirar o pai da forca"!
Estará concluída quando estiver e brilhar quando tiver que brilhar, nunca antes, nunca à custa dos meus apetites.

Há muito que queria iniciar a experiência do tricô top/ down!
Nada melhor do que me encontrar a meio de uma manga da camisola/blusa verde água, para o fazer.
Eu acho e aprovo!
Agarrei-me eufórica, pujante de entusiasmo ao projeto, tão desafiante, tão novo, tão giro ...

...até que me ocorreu a irresistível tentação de um casaquinho para um recém nascido!
Por quê?
Por nada! Porque me lembrei, porque me apeteceu... razões mais que válidas, razões irrefutáveis!
É experimentar!
A princípio estranha-se, mas depois, entranha-se!
É uma maluquice super gratificante, deliciosíssima.
Viciante!
Bem basta termos de obedecer a milhões de regas para as quais não somos ouvidos nem achados.
Já Pessoa dizia ...

         LIBERDADE
    (Interpretado na voz de João Villaret)Ai que prazer
    não cumprir um dever.
    Ter um livro para ler
    e não o fazer!
    Ler é maçada,
    estudar é nada.
    O sol doira sem literatura.
    O rio corre bem ou mal,
    sem edição original.
    E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
    como tem tempo, não tem pressa...
    Livros são papéis pintados com tinta.
    Estudar é uma coisa em que está indistinta
    A distinção entre nada e coisa nenhuma.
    Quanto melhor é quando há bruma.
    Esperar por D. Sebastião,
    Quer venha ou não!
    Grande é a poesia, a bondade e as danças...
    Mas o melhor do mundo são as crianças,
    Flores, música, o luar, e o sol que peca
    Só quando, em vez de criar, seca.
    E mais do que isto
    É Jesus Cristo,
    Que não sabia nada de finanças,
    Nem consta que tivesse biblioteca...
          Fernando Pessoa



Hospedagem de site 
E se Pessoa dizia, quem sou eu para o contradizer?

Beijo
Nina