domingo, 31 de março de 2013

Quando eu era pequenina...

... lembro que o domingo de Páscoa era de festa, com a família reunida e visita do padre que, invariavelmente bêbado, vinha abençoar a casa e os seus ocupantes.
Enfeitavam-se as entradas com plantas recém cortadas, numa espécie de código de boas vindas ao cortejo religioso que, se fazia anunciar pelo badalo sonante de um sino portátil.
Entravam!
O padre à frente, empunhando o crucifixo que dava a beijar aos moradores, seguido por um rancho de acólitos que salpicavam  água benta, comiam amêndoas, bebiam vinho do Porto e recebiam, num saco vistoso, a contribuição ao monetária que cada família desejava oferecer.
Tão depressa como entravam, saiam.
 E a soma dos copinhos de vinho do Porto justificava a euforia da comitiva.
Vinha, normalmente, à tarde. depois do almoço.
E a Páscoa só estava concluída após a visita.
Aos poucos, foi-se perdendo o costume, ou porque os adeptos da visita diminuíssem, ou porque a disponibilidade do cortejo também.
O certo é que, há muitos anos, a Páscoa já não é o que era.
Que o digam as agências de viagem que , nesta época, tiram a barriga de miséria, equilibrando a contabilidade com as vendas para destinos exóticos.
Este, foi um ano, com uma Páscoa atípica:
Não para de chover!
Ainda tentei uma ida ao Algarve que se consumou com uma noite passada fora. A chuva e o frio encarregaram-se da desmotivação.
E aqui estou, após almoço pascal a dois, sem cabrito assado, nem borrego da praxe.
Acordei tarde, rumei ao bar dos meus domingos para atualizar a leitura dos jornais e de regresso a casa, almocei um assado que cozinhou sozinho, no forno pré-programado, dispensando os trejeitos da tradição.
Não sou saudosista!
Está bem assim!
Desde que em paz, eu e os meus, está tudo bem!
Com um sorriso, imagino a incredulidade da minha mãe, toda ela dada a tradições incontornáveis, se visse a filha única que educou com esmero, a, assim, contornar os preceitos.
Feliz Páscoa!

Beijo
Nina

sábado, 30 de março de 2013

Mafra, convento, Ericeira, tempestade ...

... por esta ordem.
As previsões concediam uma pausa na borrasca para quinta-feira.
Depois, asseguravam, tempestade das feias.
Assim, havia que aproveitar a pausa e rumar a Mafra.
Porquê?
Porque desde O Memorial do Convento, de Saramago, que esse espaço em mim evoca epopeias, magia, amores perpétuos, miséria humana, Inquisição, passarola voadora, liberdade, Sete Sóis e Sete Luas.

Razões poderosas para olhar, ouvir, cheirar, sentir o Mosteiro/Palácio/Igreja.

Fruto de um contexto económico e social único, o homem sonhou e a obra nasceu. 

Extraordinária na sua amplitude ...

... no casamento e ligação de espaços.

Refinada nos detalhes que, um após outro se sucedem ...


... em cada ângulo, no dobrar de cada esquina ...



Impossível todos registar!


À frente, a imensa praça.

Num dos interiores, o jardim do museu de arte sacra.

O labirinto, sedutoramente tentador.


Ainda sem chuva, o céu ameaçava, garantia borrasca.

Perto Ericeira.
Uma vila de pescadores.
Praia, mar e muito vento.

No ar, aquela claridade amarelada que precede a tempestade.
 
Alguns andarilhos, poucos, desafiam o vendaval.


Por momentos, escassos momentos, permiti-me uma saída.

Depois, foi do interior do hotel, que observei o espetáculo ...

... que se prolongou noite adentro.
Apetece voltar!
Com sol!
Voltarei!

Beijo
Nina

sexta-feira, 29 de março de 2013

TROMBA RIJA

É nome de restaurante. Fica em Marrazes, uma localidade nos arredores de Leiria.
Para lá chegar, ou se introduz o nome do local no GPS ou se pergunta, que quem tem boca vai a Roma.
Existe há décadas e quanto mais velho, como o vinho do Porto, melhor.
Os donos, o casal Real, um charme, fazendo jus ao apelido.
Nada acontece por acaso. Tudo, mas mesmo tudo, é pensado.


Desde a decoração, assentando num rústico português confortável ...

...às boas vindas dadas por rasgados sorrisos e, na circunstância, por irresistíveis amêndoas.

Tudo é tão bom, tão imaculadamente perfeito, que os comensais fazem questão de deixar registo escrito, testemunho da sua volúpia.
As paredes são documento vivo desse imenso prazer.

O drama, a verdadeira tragédia, reside na escolha. Como escolher se tudo é perfeito?
Esta mesa de queijos desceu do céu dos gourmets para perdição dos mortais.

Uma mesa de entradas oferece-se assim, sem peias nem preconceitos

... e não  há como resistir.

Os frios, bem frios, aguardam na sua superioridade de petisco perfeito, quem quer que os cobice.

Uma mesa de quentes, espera num recanto.
Os mais capazes provam tudo.
Eu fico-me pelas entradas e, ainda assim, sabendo que peco.

E as sobremesas?
As sobremesas não tem descrição na sua postura discreta, mas irrepreensível.


Quando tudo leva a crer que a orgia terminou, um prato de fruta avança, avassalador, a tentação mais que perfeita...

... com licores, digestivos e café!

O maracujá, fruta da paixão, acomoda-se discreto e perfumado, tentador e chique , repleto de simbolismo, num universo de delícias que exige uma visita.
Ainda que por uma vez, a visita impõe-se.
Se feita a primeira se resiste às seguintes, isso não posso assegurar.

Beijo
Nina

quinta-feira, 28 de março de 2013

Num barco ...

... é a sensação que tenho neste momento, embora esteja  em terra firme.
 Em Ericeira, num hotel sobre o mar, ouço as ondas num rugir permanente.
O fim de semana longo seria gasto no Algarve, mas a certeza de frio e chuva, acobardou-me.
Como prémio de consolação, ofereci-me uma visita a Mafra, ao encontro dos heróis do Memorial do Convento, de Saramago.
Cruzei-me com alguns, que furtivamente dançavam entre as colunas.
Uma vontade irreprimível de novamente mergulhar nesse imaginário, dominou-me.
Relerei a obra.
Tarde para regressar a casa, Ericeira, linda e desgrenhada pela ventania, ofereceu-se em hotel simpático para uma noite de abrigo.
Aqui estou ... Ouvindo o mar, lendo, escrevendo.
Amanhã, senhoras e senhores, meninas e meninos, distinto público, teremos fotografias.

Beijo
Nina

quarta-feira, 27 de março de 2013

Começou por ser cachecol ...

... mais largo do que o habitual, numa amplitude de abraço aconchegante.
A cor aprovada, na sua tendência outonal, nasceu dos fundos de uma gaveta de emaranhados fios, promessas de feitos a nascer.


Com fio dobrado, agulhas grossas, foi crescendo, espuma que se agita e agiganta.

Num instante ficou pronto. O avesso sempre igual, sempre em liga, o direito em alternância contada de liga e meia..
Dez carreiras concluídas e, com auxílio de uma agulha suplementar, cruzam-se as malhas e nasce a trança.

Atenuando o decote excessivo, umas tantas voltas em canelado 2/2 ...

... ao sabor do instinto, do olho clínico, do parece-me bem, parece-me que chega.





Apetece-me continuar  o passeio sem rumo no mundo das malhas, rematá-lo com fantasia.
Vou, a toda a volta, em crochê, semear pontos, mil pontos e fazer nascer renda.
Foge à regra.
Escapa à norma.
E o que nasceu para aquecer sem alardes nem desvarios, ganhará remate festivo, de abertos e fechados, simulando estrelas ou flores ou o que muito bem me ocorrer.

Não é para ser útil. É para ser lindo e diferente e marginal, num desrespeito assumido pelo previsto.
Não posso descrever o prazer ! É libertador na ousadia!
Como terapia descompressora, não há melhor!
É ousar!
É experimentar!

Beijo
Nina

terça-feira, 26 de março de 2013

Zara

Foi sinónimo de roupa gira a preços convidativos.
Deixou de ser, é essa a minha convicção.
Os modelos continuam interessantes, originais, atuais, se não nos importarmos que existam milhares (milhões?) por esse mundo fora.
A qualidade, essa, é que não é, de modo algum, promessa.
Coisas há que valem o dinheiro, enquanto outras, à primeira lavagem perdem a graça, ficando imprestáveis.
Os preços, esses, subiram muito, subiram demasiado.
Onde estão as ofertas irresistíveis a preços convidativos!?
Vi, esta manhã, uma pilha de blusas, todas da mesma malha, com cara de que, se te encostas, puxo-te um fio! Vi portanto essas blusas e, à primeira vista agradaram-me, tanto mais que procurava aquele exato tom de cinzento.
Olhei para aquela montanha, escolhi o M e de peito feito dirigi-me à caixa.
Foi então que vi o preço: 39.95€, aquele farrapo vistoso, com dezenas de irmãozinhos na prateleira.
Não olhei a etiqueta, mas aposto que se o tivesse feito, encontraria um Made in China, ou por aí.
Parece-me que o senhor Zara anda distraído e não deu ainda conta de que o tempo das vagas gordas já lá vai, bem como o use e deite fora, em elogio desmedido ao descartável.
Não é por acaso que a Burda da minha infância, entretanto sumida na falsamente rica Europa do sul ( na Alemanha nunca deixou de ser publicada...), reapareceu pujante de vigor.
Parece-me que o facto não é inocente.
Parece-me que tem tudo a ver com a postura das pessoas, cansadas (e exauridas...) de gastar privilegiando a quantidade em lugar da qualidade.
Parece-me que um novo ciclo se inicia.
Para mim, já se iniciou.

Beijo
Nina

segunda-feira, 25 de março de 2013

Estou em crer ...

 ... que o Inverno veio para ficar!
Um desânimo, cinza nos olhos, água na alma.
Com a Páscoa à porta, os dias decorrem assim:


Chuva miúda, persistente, insistente, contínua ..

... para não mencionar o frio.
Meio louca, descentrada, escolho vestidos, em negação, em recusa do manto cinzento que por nós escorrega.
É que eu até gosto de chuva, e de frio, e de vento, e do conforto da casa... mas gosto em igual medida do sol, dos dias mornos, das bebidas frescas , das roupas leves.

Ia passar a Páscoa ao Algarve. Ia. Acabei de cancelar.
Com frio e chuva, não há hotel que me conquiste. Antes o meu espaço, as minhas coordenadas, o meu ninho.
Não vou, portanto!

Decisão tomada, apliquei uma hora congeminando roupinha leve, ligeira, alegre, assim como paliativo para a neura:

Crepe de seda.
Azulão!
Cair molenga, acariciando a pele.
Bom para as saídas nocturnas, estivais, de longa conversa  em terraço sobre o mar. 

Será macacão. Solto e envolvente!
Agrada-me o projecto...

... que, imparável, rola!

Tirei os moldes.
A Mira fará o resto.
E assim, em miragem do tempo que virá, aqueço e seco as horas de chuva.
Ainda me mostrarei assim ataviada, de sandálias nos pés nus, pulseiras, muitas pulseiras nos braços, loiríssima por acção do sol, bronzeada  e com um brilho de sol no olhar.
Acho que sim!
Acho que o Verão acabará por chegar.

Beijo
Nina

sábado, 23 de março de 2013

Novidades...

Avariou-se a máquina de lavar a louça! IUPI!!! Que felicidade tão grande!
Depois do frigorífico, do aspirador e da vaporetta, agora foi a verdadeira fada do lar, a que mantem a a cozinha nos trinques, a máquina de lavar a louça.
É que se suja um copo e zás, máquina com ele, uma colher, um prato, o que seja... é só abrir a porta , meter lá dentro a sujidade e a cozinha mantem aquele ar de Hollywood, de cozinha de revista, sempre limpa e reluzente. Por isso lhe chamo Fada do Lar.
Ontem, chegada do cinema, à meia noite e picos, ouvi um ronronar estranho na cozinha.
Fui averiguar... Era a dita agonizante.
Hoje lavei uma pilha de louça descomunal... estou tão feliz!
Apetecia-me deitar tudo no caixote do lixo, tal a felicidade.
O pior é que amanhã é domingo e só na próxima segunda feira chamarei o entendido para resolver o assunto, se é que tem resolução...
Entretanto rasguei as luvas de borracha, estraguei as unhas, ensopei o avental e a louça parece que, por geração espontânea, surge do nada.
Vou fingir que não vejo.
Vou fechar a porta da cozinha e sumir.
Pelo menos até segunda feira.

Beijo
Nina 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Lentilhas


Sabe, aquelas leguminosa redondinhas, achatadinhas, que, quando nos lembramos, compramos e depois de deixar de molho por umas horas, utilizamos como base nas sopas?
Sabe?
Pois as bichinhas  têm outras aplicações, muitas outras aplicações.


Cá estão elas, miúdas, monótonas, sem graça, uma irmã gémea da outra, numa unanimidade burra, sem grandes promessas e nenhumas aspirações!
Comem-se porque sim, porque faz bem, porque devemos incluir leguminosas na alimentação, porque , inócuas, não sabem a nada, limitando-se a estar lá.
Há que lavá-las em várias águas, pois o aspeto brilhante e polido esconde montanhas de duvidosa e perigosa poeira.


 
Depois, piscina com elas!
Só então, bem hidratadas,  quase obesas, podem ser utilizadas.

A sopa é um clássico. Cozidas com cebolas, alhos, cenouras e, depois, reduzidas a puré.
Mas há outros desafios, irresistíveis, para o ser volúvel que sou eu, sem contenção, aderindo a propostas, mergulhando alegremente no escuro.
Procurando encontrei aqui :

-Lentilhas com paio
-Lentilhas com costelinha
-Lentilhas com ossobuco
-Arroz de lentilhas ...
...e por aí fora, de tal modo que estas coisinhas sem graça, de repente, se tornam apelativas, tipo moça feia que , por obra e graça de um banho de loja, se transforma, se transmuda numa sereia irresistível.

Convencidíssima, observo as coisinhas duplicando de forma e volume, imaginando criações culinárias de fino recorte gourmet!

Seja como for, dê lá por onde der, é tratar de comer leguminosas que  incrementa a saúde e a silhueta agradece.

Beijo
Nina

quinta-feira, 21 de março de 2013

Foram 4 horas ...

240 minutos da minha vida, bem  cronometrados, o tempo que passei , esta tarde, no cabeleireiro.
Oh! tempinho mal gasto!
Haja paciência.
Tudo muito lento, tudo muito minucioso, dezenas de operações que, uma após outra se sucedem, levando-me ao desespero.
Madeixas, nuances, luzes, o que quiserem... operação muito mais longa do que uma cirurgia para retirar o apêndice.
Sabendo ao que ia, fui prevenida:
A última Marie Claire, a última Burda (com direito a suplemento, versando a iniciação à costura, que, como é sabido, teórica, compro tudo...) e o iPad.

Acontece que a moça , uma querida, aliás, queria conversar, compartilhar saberes, dietas, modas, culinária e até decoração.

Posto isto, guardei as revistas, fechei o iPad, entreguei os pontos.



No final, gostei...

...assim quase que como após as dores do parto, rapidamente esquecidas, perante a recompensa ganha.

Trata-se de uma mistura de fios loiros e castanhos... 

...muito mal autofotografados ...

...com artes de contorcionista.

Daqui por 2 meses, esquecidas as dores de parto, lá estarei de novo, à mercê das tintas, tesouras, cremes champôs e secadores, retocando raízes, hidratando não sei o quê, tonificando fios, perseguindo pontas mal tratadas.
Sofre-se muito para agradar ao espelho.
Sofre-se voluntariamente.
Como é mesmo que se chamam as pessoas com tal apetência?
Masoquistas! É isso! Só pode ser masoquismo.

Beijo
Nina

quarta-feira, 20 de março de 2013

Acabaram ...

... as amêndoas.
Ouvi palpites.
Segui conselhos.
Que a culpa é que engorda!
Foi o meu preferido. Rendi-me! Entreguei-me de alma e coração!

Hoje, iogurte magro com chia.

Chia?

Sim, chia!
E cito:
"A Chia é uma planta de sementes mucilaginosas semelhantes à linhaça, mas nutricionalmente mais completa. Contem proteínas (...), fibra e ómega 3, vitaminas e minerais (...)
Mas o que é, realmente, IMPORTANTE, é que é extremamente saciante.
Uma colher de chá num iogurte magro espanta a fome para os confins do universo.
Garanto.
Pode misturar-se na sopa, na massa de bolos, em batidos ... em todos os pratos.
 Quando me sinto mesmo radical, misturo uma colher de sobremesa num chá, ou num copo de água. As sementes crescem e viram bolinhas tipo tapioca. Não têm sabor. É só ir bebendo aos golinhos e a quantidade de calorias ingeridas cai drasticamente.
Depois, e não menos importante, é a melhor faxina que se pode realizar a nível intestinal.
Digamos que é tiro e queda, e por aqui me ficando a nível de especificações.
O único problema é que se esgota rapidamente nas prateleiras do supermercado, visto que o segredo não é exclusivamente meu.

Em onda de obrigatória contenção, preparei Strogonoff de peito de frango.

Ei-lo, com muita cebola, cogumelos e natas ... de soja!


Dão ao preparado a cremosidade exigida, sem ponta de gordura!

Se fica bom?
-Fica, fica muito bom!
Cremoso, deliciosamente suculento e ... sem gordura, que para pecar (nem quero que me lembre...)  lá esteve a orgia das amêndoas.

Beijo
Nina