terça-feira, 18 de junho de 2019

Amarante




Estive em AMARANTE na véspera do início das festas da cidade e logo que iniciei o passeio ouvi o som da banda. Tinha que haver uma banda.
Depois cruzámo-nos.


Aquele romantismo nostálgico que associa "A banda" a Chico Buarque, infelizmente, no caso, não lhe assentou.

Barulho, imenso barulho.
 Nenhuma  melodia que fizesse "A moça triste que vivia calada" sorrir...

As ruas junto ao rio Tâmega encontravam-se ocupadas vendendo o que é suposto encontrar em tais efemérides. 
Além da banda, havia música no ar.
Brejeira, popularucha, barulhenta. 
Barulho, ruído.
Contrastando com a placidez bucólica da paisagem.
E aqui - já sei - visto a farda snobenta de quem não aprecia romarias. 
- Posso?
- Posso, não delirar com o Quim Barreiros?
- Obrigada!
Não, definitivamente, não deliro.

Prefiro a vista límpida do rio, da verdura das margens. E o silêncio! 









A coluna vertebral de Amarante é o rio Tâmega que  divide a cidade em duas , cada uma na sua margem.
Felizmente existe a ponte ...

A PONTE DE S. GONÇALO

E ao fundo, a Igreja ...


IGREJA E CONVENTO DE SÃO GONÇALO
À sua volta, cresceu o burgo, que, velhinho, continua lindo, carregadinho, de passado,  de história.





Não foi o melhor dia para visitar Amarante - havia festa.
Melhor será vivido e apreciado quando adormecido no ramerrame dos seus tranquilos dias, sem folias exasperantes, na tranquilidade pasmada do seu quotidiano.

Come-se bem em Portugal, come-se muito bem no Minho, come-se divinamente em Amarante.
Para fugir ao eterno Zé da Calçada, arriscámos no Pobre Tolo cujo nome espicaçou curiosidades.


Na margem esquerda do Tâmega, depois da ponte, casa discreta, rural, mas escorreita na limpeza , acolhedora no trato e de altíssima qualidade na comida. Que é de comida que agora falamos. Tão boa! Tudo perfeito .

Risoto de cogumelos! uma coisa!!!

Tenho a veleidade de crer que um dia serei capaz de convencer o (a) cozinheira(o) a permitir que assista à sua confeção, Porque aquilo, de tão bom, tem truque, segredo insondável.
Acompanhava uma carne que, face ao sublime risoto perdia todo e qualquer protagonismo (ainda que fosse, como era, excelente)

Isto não é uma sobremesa.
Isto não é um Pudim Abade de Priscos.
Não!
Isto é uma jóia!
Uma raridade, uma preciosidade.

Poder-se-ia optar pelos docinhos tradicionais de Amarante.
Eu optei.
Optei duas vezes, já que comi dois, esquecida de contenções e dietas.
Ai!Ai!
Suspiro e salivo, salivo e suspiro.
E mais não digo.

Seguimos para o Museu Amadeo Sousa Cardoso e difícil se torna descrever emoções a este nível.
O museu percorre-se devagarinho, contempla-se, volta-se atrás uma e outra vez. Vê-se sem pressas. Mais que ver, absorve-se, mergulha-se nas telas que assim se oferecem.
Não foi a minha primeira vez. Não foi a última. Voltarei.Obrigatoriamente.

Depois. Depois não poderia regressar a casa sem o último ritual.
Os doces.
Quando era criança, a Lailai era quase local de culto. Paragem obrigatória.
Um entusiasmo. Tão grande que, um dia, na pressa de entrar, quase atravessei um vidro. O vidro da porta. Foram lágrimas e um "galo" na testa.

Num dia de triste memória encontrámos a Lailai encerrada. Problema de partilhas, herdeiros que não se entendiam - informaram-nos.
Foi um dia triste.
O adeus à Lailai quase um adeus a memórias de infância.
A vida continua e então conhcemos a ...

Confeitaria da Ponte
que ...

... em nada desmerece a Lailai - entretanto reaberta.

Escolhi 3 destes, 3 destes e mais 3 destes e daqueles que não sei o nome - aliás, nomes para quê?
O sabor, senhores, o sabor, o derreter na boca, o querer só mais um ...
Ir a Amarante é isto.
E muito mais.
Mas, isto, é a essência, o essencial, a recordação que perdura.

Beijo
Nina