terça-feira, 17 de março de 2020

Quarentena

Gosto muito de estar em casa. Ouso dizer que é o meu local favorito. E agora cá estou, cá estamos eu e o marido. Os dois. Sem empregada, sem filhos, sem visitas.
A verdadeira e opcional quarentena começou a meio da semana passada. Foi interrompida por uma ida à farmácia e outra ao supermercado. Aproveitando que estávamos na rua, prolongamos o passeio para olhar o mar e a foz do rio.
Depois, sempre e só casa.
Não tenho sentido o peso da quarentena.
Ocupo-me com a casa. Descubro em cada espaço motivos para limpar. Empunho um pano do pó e limpo o que comprovadamente não tem sido tocado há semanas.
Cozinho, sem sacrifício. Afinal essa tarefa sempre ficou por minha conta. Esse espaço está satisfatoriamente limpo e organizado - é o olho do dono que engorda o gado, não é?
As roupas são tratadas assim que se justifica ligar a máquina. Depois de secas, dobro algumas, deixando poucas para passar, tarefa que detesto.
Revejo revistas, rasgo papeis inurilmente guardados e ponho ordem na casa.
Quase concluo que não preciso mesmo de ajuda externa.
Sobra-me ainda tempo para ler, tricotar e assistir às minhas séries favoritas.
Quarentena não tem sido sinónimo de prisão.
Lamento apenas, lamento imensamente o motivo que a provocou.
E, como toda a gente, tenho os meus momentos de verdadeiro pavor.
Ocupo-me e procuro  esquecer.

Beijo
Nina