quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Cacela Velha

É mesmo assim, muito branca muito azul, esta aldeia de pescadores, antiga fortificação militar, cujas origens remontam à ocupação árabe da Península Ibérica.
Faz-me lembrar Soud Bou Said, na Tunísia, igualmente branca e azul, enfeitada, aqui e ali, por cachos de buganvilias.


Tunísia, Soud Bou Said

Durante o Verão, Cacela Velha é local de eventos culturais, com o título genérico de Noites da Moura Encantada.
Há lá possibilidade de descobrir uma designação mais romântica, mais misteriosa ou mais sedutora?
Dificilmente!
Um dos palcos é o Cemitério Velho, espaço obviamente desocupado, mas, cujo nome, sugere eventos inesperados, fantasmas, quiçá, aparições ...

Garantiram-me, fonte anónima, mas fidedigna, que, em noites enluaradas, quando uma gigantesca lua-cheia se eleva do mar, e a aldeia dorme,  uma princesa moura deambula pelas ruelas e se queda junto à muralha sobranceira à ria, observando o horizonte, na esperança vã de ver aparecer o seu amado, um cavaleiro cristão que dela aí se despediu, antes de embarcar para uma cruzada de onde nunca regressou.
Era um amor proíbido, contrariado e perseguido, maldito, daqueles que se fortalecem com a oposição e adversidades, até se tornarem  indestrutíveis e lendários.

Infelizmente, nunca a encontrei, essa sofredora princesa árabe.
Mas um dia ( ou uma noite...), quem sabe?

Por isso persisto em visitar Cacela Velha, tão linda, tão misteriosa.



Eugénio de Andrade, dela escreveu:


  Uma das ruelas perpetua o seu nome, em jeito de agradecimento e louvor:



E na minúcula igreja, os sinos continuam a tocar diariamente, insistindo em celebrações religiosas cristãs que não dissuadem a princesa moura, prisioneira da sua eterna espera.




Beijos,
Nina