quarta-feira, 10 de junho de 2020

Doce de tomate


Tinha comprado 2 quilos de tomate coração de boi, de cultivo biológico, na minha vendedora que mora ali para os lados da Apúlia e me abastece quase todas as semanas  com toda a variedade de verduras. É a D. Fátima que se dedica à agricultura e tem imensa clientela. A propósito, confesso que admiro muito esta mulher que, com fracos recursos,  educa três filhos, sendo que todos frequentam a universidade. O seu elevador social foi mesmo o trabalho no campo.

Sempre que posso, lá vou eu abastecer-me e, para além das hortícolas trago uns ovos fenomenais, todos, garantidamente, com duas  gemas.

Voltando aos tomates, comprei-os ainda verdes e deixei-os fora do frigorífico durante uma semana, até ficarem bem madurinhos próprios para o doce de tomate, sabor que carrego entranhado na minha memória, desde a minha infância.

Então, limitava-me a comer, mas lembro que o dia da confecção do dito, era um acontecimento demorado trabalhoso e minucioso que enchia a cozinha de azáfama e a casa de odores.

Os tomates eram escaldados para se lhes retirar a pele e depois examinados quase com lupa para que nenhuma semente se imiscuísse no preparado, composto por açúcar, canela, casca de limão e a polpa do fruto que, muito lentamente fervia até atingir o ponto perfeito - colocava-se uma colherada num prato frio, abria-se  uma estrada com uma colher e, se esta se mantivesse estava pronto, no ponto.

Hoje simplifico:
- Não retiro a pele;
- Não me preocupo com as sementes;

Lavo os frutos, parto-os e lá vão para a panela com os restantes ingredientes até atingirem o dito ponto.

Aconselho lume brando logo que levante fervura, caso contrário pode queimar. A colher de pau é ferramente indispensável. Portanto, até começar a ferver, mexer, mexer sempre. 


Atenção que a mistura tende a salpicar e não é agradável - admito que apanhei com um pingo na mão direita que doeu, fez bolha e agora que a bolha rebentou, surgiu uma feia ferida que embarra em tudo e dói que se farta. Para a próxima uso luvas



Os frascos onde será guardado o doce devem, obrigatoriamente, ser esterelizados. Fervo-os com as respetivas tampas durante 15 minutos. Coloco-os invertidos sobre uma tolha limpa e, logo que o doce esteja pronto, transfiro-o para os frascos.



Deixo que arrefeçam assim, de cabeça para baixo, para que se forme vácuo.
Há quem volte a fervê-los, mas eu dispenso esse passo, até porque o doce é comido tão rapidamente que não se corre o menor risco de que se estrague.

Já comprei mais tomates. Sempre coração de boi. Espero que fiquem no ponto, isto é, bem maduros, e prepararei outra dose.

Costumamos comê-o ao pequeno almoço, com torradas, mas é fantástico como sobremesa, acompanhando queijo.
E assim, quase perdi o hábito de comprar compotas no supermercado. Até porque os meus comensais, com gosto gourmet, protestam se faço batota.


Bons feriados.

Beijo
Nina