A pandemia precipitou esta decisão, acabando por concretizar um projeto latente, um projeto acalentado desde sempre.
Falo de viver no campo.
Nasci e cresci numa casa com quintal e jardim. Havia horta, árvores de fruta e até galinhas para consumo doméstico. Também tínhamos cães e pelo menos um gato. Parecia-me normal, nada que sugerisse privilégio particular.
Quando , casada, me mudei para um andar, fi-lo com o entusiasmo de quem inicia uma nova (e fulgurante) etapa, valorizando a novidade de cada pormenor. Porém, cedo constatei que a “coisa” tinha os seus “quês “ - saudades do quintal, da horta, do cão, do gato e até das galinhas. Ruminei no assunto, quase sempre em solilóquio, já que o quórum se me apresentava reticente. Quando muito, suspirava:
- Ah, uma casa com quintal! ( Do outro lado, nada, nem um pio, numa muito bem conhecida surdez seletiva.)
O tempo foi passando.
O tempo, essa espécie de abstrata divindade que tudo resolve, resolveu finalmente o meu tão profundo anseio.
Não me mudei para o campo, não!
Mantenho a minha casa de sempre, a minha casa de onde vejo o mar. Mas, o refúgio no campo está lá, como alternativa, como opção aberta. E, sempre que apetece, viro camponesa.
Depois de todo o tempo em que brinquei aos quintais, brinquei aos jardins, nas varandas e terraços da cidade, agora é a sério, como provam as laranjas e dióspiros acabadinhos de colher.
Estou a gostar muito mais do que imaginava que gostaria.
(Esta a razão da minha quase ausência. É que as tarefas de camponesa são assoberbantes. E depois há o clima com os seus caprichos, e as regas e as podas e as colheitas que me escravizam. Repito, não poderia estar mais feliz)
Beijo
Nina