quarta-feira, 9 de março de 2011

PERU

No século XVI, chegou à Península Ibérica trazido pelos navegadores espanhóis, e daqui se espalhou para todo o mundo.
Nunca gostei de peru!
A razão da minha aversão prende-se com um facto  ocorrido na infância, cujo trauma ainda perdura.
Tinha uma tia, a tia Fernanda, que vivia numa casa implantada no meio de um imenso terreno. Nele se praticava todo o  tipo de agricultura, crescia um pomar com as mais diversas árvores de fruta, imperava um lago onde nadavam peixinhos vermelhos e onde, nos dias de canícula, cheguei a mergulhar com outros garotos da minha idade.
Era o paraíso?
NÃO!
Também criavam perus.
Eu, cautelosa face às proporções descomunais dos bichos, observava-os de longe, movendo-se em grupo, espampanantes, na sua plumagem de gala, black total eles, elas de branco, monstruosos, com o pedúnculo carnoso, de um vermelho arroxeado, que, como um badalo, oscilava , suspenso sobre o bico, que emergia de uma calva cabeça vermelha.
 E a voz?
 Era gutural, mas estridente, num glu-glu que acionava alarmes anti- intrusão.
Morria de medo deles.
Porém, um dia, incauta, aproximei-me do seu território, convencida que as minhas pernas ágeis, os deixariam à distância, em caso de perigo.
Engano o meu.
De repente vi-me rodeada pelo bando de monstros, que, sem qualquer tipo de intimidação face aos meus gritos, saltos e esbracejar, chegaram a picar-me.
Vi a morte à frente dos olhos e num ápice tive a certeza que seria devorada  acabando, estupidamente, no estômago (?) das feras.
Claro que tal não aconteceu e hoje , aqui estou, a contar a história.

Pois este mostrengo, chegou a ser uma ave aristocrática, antes da sua criação ascender ao estatuto industrial de produção em massa.
Então, comia-se assado e recheado, como prato principal, em algumas zonas do país, na noite de Natal.
Eu, já adulta, continuava a antipatizar com o bicharoco, que para ser apresentado exigia  penosas fases que antecediam o repasto:
Primeiro era preciso embriagá-lo, enfiando-lhe pela garganta uma certa dose de cachaça ( para os músculos distenderem e a carne ficar mais tenra ...)
Depois de executado, havia que o manter 24 horas num banho de água e limão.
Seguia-se a fase do tempero que antecedia o cozinhado, 24 horas.
Vinha finalmente o acto de o assar que exigia a aplicação de uma fórmula matemática: por cada quilo de peso, correspondia uma hora no forno.
Quem pode confiar numa criatura destas?

Actualmente, reconheço que a coisa mudou e os nutricionistas até aconselham o seu consumo.
Mas um facto permanece imutável: a sua carne é insípida.
Para contornar a questão, sugiro um tempero que resulta lindamente com a carne de porco:


Embalagem de espetadas de peru
-Sal e pimenta moderados;
- 3 colheres de sopa de mel
- 3 colheres de sopa de ketchup
- 3 colheres de sopa de molho inglês



Aplicado o tempero, fechei o recipiente e guardei no frio, até ao dia seguinte.
Na altura de cozinhar, reguei um grelhador com um fio de azeite e deixei que as espetadas grelhassem 2 minutos em cada uma das quatro superfícies.






Servi com brócolos cozidos ao vapor e arroz branco.
Garanto que o sabor da carne melhora imenso, ficando com uma leve sugestão de barbecue, muito apetecível.
O aspeto é este:



Podem experimentar.
Quem o diz é a protagonista da pungente narrativa atrás feita.
Beijos,
Nina

7 comentários:

  1. Nina querida, saudades de vc tb, achei um luxo este prato, nossa, queria estar aí pra degusta-lo... Mas sua história é muito interessante eu teria pavor tb de peru heheh, mas as coisas vao se acomodando a gente amadurece e consegue dá-lhes ate um outro sabor ehehe, adorei. beijos e até mais, adorei "te ver"

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  2. nhamnhamnham...
    que delicia isso!

    Já acompanho diariamente esse delicioso lugar para tirar idéias...

    Obrigada viu!

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  3. Olá Nina,
    fiquei com água na boca, seu prato ficou bonito e tenho certeza, muito saboroso.
    Em relação aos bules, também adoro eles.
    Beijo,
    Ana Paula
    Salinha do Crochê
    Salinha da Fotografia

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  4. Sabe qual o meu azar? Sou uma gulosa... nem mesmo histórias como a tua me afastam do prato!,kkkk Vivi algo parecido com gansos, mas amo a carne assim mesmo.
    Lindo texto.
    Bjs

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  5. Ahahaha!
    Medos...cada um com os seus!
    Eu também não gosto dessa história de bicho solto no quintal, eles sempre cismam comigo!
    Olha que seus espetinhos estão com uma cara ótima!
    bj
    Paola

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  6. Olá Nina, já eu amo carne de peru, e também admiro a beleza deles no quintal juntos com outros animais, mas eu já fui atacada por uma ave também, um ganso, hahaha e morro de medo ainda. Já seusespetinhos parecem bem apetitosos, amei o seu cantinho aqui e já estou te seguindo, obrigada pela visita e espero que volte sempre!! Bjokas

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  7. Nina, que delícia!
    Menina você é ótima. além de vencer o medo dos perus, conseguiu transformá-los em um prato delicioso. Poderia bem se chamar "A vingança de Nina"!
    Beijos

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