O poema que transcrevo, de Guerra Junqueiro, começa com o verso:
"Manhã de Junho ardente ...."
Veio-me à ideia, quando, hoje, em pleno Julho, plena época de férias, o cenário, uma vez mais, era de densa e húmida neblina que, nos últimos dias, tem alternado com gélida e feroz nortada.
No tempo em que o poeta escreveu esta bela composição, Junho era um mês ardente.
A Lágrima Manhã de Junho ardente. Uma encosta escavada, Sêca, deserta e nua, à beira d'uma estrada. Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha, Bebendo o sol, comendo o pó, mordendo a rocha. Sôbre uma folha hostil duma figueira brava, Mendiga que se nutre a pedregulho e lava, A aurora desprendeu, compassiva e divina, Uma lágrima etérea, enorme e cristalina. Lágrima tão ideal, tão límpida, que ao vê-la, De perto era um diamante e de longe uma estrêla. Passa um rei com o seu cortejo de espavento, Elmos, lanças, clarins, trinta pendões ao vento. - "No meu diadema, disse o rei, quedando a olhar, Há safiras sem conta e brilhantes sem par, "Há rubins orientais, sangrentos e doirados, Como beijos d'amor, a arder, cristalizados. "Há pérolas que são gotas de mágua imensa, Que a lua chora e verte, e o mar gela e condensa. "Pois, brilhantes, rubins e pérolas de Ofir, Tudo isso eu dou, e vem, ó lágrima, fulgir "Nesta c'roa orgulhosa, olímpica, suprema, Vendo o Globo a teus pés do alto do teu diadema!" E a lágrima deleste, ingénua e luminosa, Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa. Couraçado de ferro, épico e deslumbrante, Passa no seu ginete um cavaleiro andante. E o cavaleiro diz à lágrima irisada: "Vem brilhar, por Jesus, na cruz da minha espada! "Far-te hei relampejar, de vitória em vitória, Na Terra Santa, à luz da Fé, ao sol da Glória! "E à volta há-de guardar-te a minha noiva, ó astro, Em seu colo auroreal de rosa e de alabastro. "E assim alumiarás com teu vivo esplendor Mil combates de heróis e mil sonhos d'amor!" E a lágrima celeste, ingénua e luminosa, Ouviu, sorriu, tremeu e quedou silenciosa. Montado numa mula escura, de caminho, Passa um velho judeu, avarento e mesquinho. Mulas de carga atrás levavam-lhe o tesoiro: Grandes arcas de cedro, abarrotadas d'oiro. E o velhinho andrajoso e magro como um junco, O crânio calvo, o olhar febril, o bico adunco, Vendo a estrêla, exclamou: "Oh Deus, que maravilha! Como ela resplandece, e tremeluz, e brilha! "Com meu oiro em montão podiam-se comprar Os impérios dos reis e os navios do mar, "E por esse diamante esplêndido trocara Todo o meu oiro imenso a minha mão avara!" E a lágrima celeste, ingénua e luminosa, Ouviu, sorriu, tremeu, e quedou silenciosa. Debaixo da figueira, então, um cardo agreste, Já ressequido, disse à lágrima celeste: "A terra onde o lilaz e a balsamina medra Para mim teve sempre um coração de pedra. "Se a queixar-me, ergo ao céu os braços por acaso, O céu manda-me em paga o fogo em que me abraso. "Nunca junto de mim, ulcerado de espinhos, Ouvi trinar, gorgear a música dos ninhos. "Nunca junto de mim ranchos de namoradas Debandaram, cantando, em noites estreladas... "Voa a ave no azul e passa longe o amor, Porque ai! Nunca dei sombra e nunca tive flor!... "Ó lágrima de Deus, ó astro, ó gota d'água, Cai na desolação desta infinita mágoa!" E a lágrima celeste, ingénua e luminosa, Tremeu, tremeu, tremeu... e caíu silenciosa!... E algum tempo depois o triste cardo exangue, Reverdecendo, dava uma flor côr de sangue, Dum roxo macerado, e dorido, e desfeito, Como as chagas que tem Nosso Senhor no peito... E ao cálix virginal da pobre flor vermelha Ia buscar, zumbindo, o mel doirado a abelha!... | |
Uma fina cortina cinza estende-se até à linha do horizonte ... |
A anémona, no seu habitat natural, literalmente falando. |
A praia em todo o seu esplendor. |
A escola de surf mantem o programa |
Imperturbável! |
Um dos lagos do Parque da cidade estende-se até à praia. Dir-se-ia que a melancolia atingiu os patos.... |
Na praia, grupos de crianças dos colégios em férias, meio vestidas, cumprem o horário. |
Sob a vigilância das educadoras, essas, sim, vestidas |
Contra a nortada, as típicas barracas das praias do norte. |
Alguns destemidos.... |
Esplanadas quase desertas. |
A criançada imune ao frio ... |
O sistema de rega automática, adensa ainda mais o nevoeiro. E assim decorre Julho "ardente" Um desconsolo. Beijos, Nina |
Que lindo seu post...mesmo com dias cinzentos vc consegue enxergar a vida com poesia!!!!que paixão!!!
ResponderEliminarbjus e lindos sonhos para vc!!!
Olá querida Nina,
ResponderEliminardramática sua composição de hoje! E, veja que em dias cinzentos e brumosos, a poesia também brota. A de Gerra Junqueira e a sua! E a sua tem ilustração condigna.
Eu, que tive temperamento melancólico na adolescência, volto a tê-lo na envelhecência e sou apaixonada por dias plúmbios como este e a natureza tende a agradar a gregos e troianos né?
Mas, anime-se, o verão logo estará presente e esplodindo em luz aquecerá sua vida do jeito que você gosta, porém, mesmo com dias radiantes, não deixe de ser romântica.
Votos de alegres dias pra você, sem "fog"!
Beijão,
Lu
Olá flor, eu de novo!
ResponderEliminarDesculpe-me: Junqueiro e não Junqueira.
Até mais...
Beijão,
Lu
Nós aqui em pleno inverno próximos dos 30°C.
ResponderEliminarVocês em pleno verão com uma paisagem que mais lembra nosso inverno no Brasil.
O que estamos fazendo com o clima do planeta?
Beijos e espero que amanhã tenha um lindo sol para iluminar o seu dia!
Nina é verdade que este Julho cá no Norte não parece de Verão as nortadas começaram cedo e a neblina incomoda mesmo.
ResponderEliminarBeijinho
Nina! O poema é lindo! As fotos, apesar de nada terem a ver com um verão sempre desejado, mas desta feita pouco quente, estão lindas! Aqui por Lisboa, apesar de vivermos sem nevoeiro, o verão na verdadeira essência da palavra não se faz sentir!
ResponderEliminarBeijinho
Olá
ResponderEliminarBom dia e FELIZ DIA DO AMIGO.
Espero sempre contar com sua amizade.
O poema é lindo.
Abraços com carinho,
Marli
Post profundo...
ResponderEliminarOi nina,
Tudo bem querida?
Hoje finalmente tive um dia de inverno, um dia cinza, vento...
Quem sabe até uso o cachecol que fiz, antes o sol era puro verão aqui!
Fixei os olhos na linda imagem do lago...
Abraço!
"....pérolas de mágoa imensa"... UAU!
ResponderEliminarMas o tempo acho que segue a humanidade,doido,doido,como nós todos no planeta inteiro!!!!Este mês,aqui em São Paulo,apesar do inverno,já passamos por tudo e esta semana está indecisa,tem neblina,sol,vento,um tempo seco,irrespirável e esfriaesquenta sem parar.
Bjs
Olá querida, estou te seguindo nesse teu Blog também!!!grande bjoss!!!Dani Tesch
ResponderEliminarNina!! Feliz dia do amigo! Que bom ver pessoas que veem poesia e alegria em tudo!!! É isso aí Nina! A gente está de passagem por essa vida, e temos de aproveitar cada segundo...
ResponderEliminarbeijos
Gosto de suas fotos, Nina.
ResponderEliminarOlá Nina,
ResponderEliminarLindo o poema.
É muito bom ver a pureza e inocência das crianças imunes ao frio, alheias a qualquer coisa que possa atrapalhar momentos de plena felicidade.
Bjs
Lelê
Olá querida amiga,
ResponderEliminarlindo poema!
Vim aqui te dar um abraço forte de dia do amigo!
O tolo faz se sábio, diante de uma postagem tão rica como essa onde a poesia declara e as fotos justifica a intensidade de sentimentos, fez hoje vc o mês de Julho significativo para mim.Bjs querida.
ResponderEliminarQuerida Nina, estamos mais no fim do Verão ou inícios do Outono que em pleno Julho. As tuas fotografias, estão lindas e retratam na perfeição, este mês deslavada :)
ResponderEliminarBem bacana sua postagem!!... bjsss brasileiros...
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