sábado, 21 de maio de 2011

Menina Prendada...

...que domina as artes domésticas e que, intelectualmente, toca piano e fala francês!
Esse era o paradigma dos inícios do século XX, concretamente, antes do eclodir das duas guerras mundiais.
Com o decorrer dos conflitos, principalmente do segundo, às mulheres, na retaguarda, foi exigido colaborar no esforço da guerra e as ditas "prendas domésticas" foram, forçosamente abandonadas.
Entretanto, politicamente, a mulher ganha estatuto de cidadã de primeira com acesso ao direito ao voto e ao reconhecimento da sua dignidade como cidadã ... no papel, porque na prática, as coisas estavam longe de decorrer pacificamente.
Quem não é levado a sério, quem não consegue fazer-se ouvir,já se sabe, recorre a métodos extremos e, por exemplo, queima sutiãs, numa manifestação de rebeldia perante o estatuto de mero objecto sexual  que se engalana para satisfação masculina machista, lembram-se?
E a luta continua: " Por trabalho igual, salário igual!!!"
Assim, aos poucos, a duras penas, as coisas vão mudando.
Definitivamente, a mulher recusa ser "fada do Lar" e sai à procura da sua independência alcançada por um salário ao fim do mês.
E aqui chegamos!
Permito-me, no entanto, questionar-me:
A mulher sai, entrega os filhos a terceiros, regressa a casa ao fim do dia, enfrentando , maioritariamente, um segundo período de trabalho, para se sentir profissionalmente realizada, ou porque precisa, porque um segundo salário é indispensável?
Difícil responder, não é?
Há casos e casos.
Há quem não suporte um dia em casa , do mesmo modo que há quem suspire por ele.
Conheci, num local onde trabalhei durante anos, uma empregada subalterna que dizia:
-Eu trabalho aqui, porque me aborreço muito em casa, no fim do mês.
Toda esta conversa para falar nas "meninas prendadas"
Actualmento, sê-lo é quase um atestado de burrice, um palavrão, porque sê-lo significa, erradamente, na minha opinião, que se é intelectualmente inferior, desinformada, desinteressante, ultrapassada, numa palavra, limitada.
Acho uma pena que as mulheres se achem no direito de se avaliarem umas às outras desta forma.
Acho pobre e preconceituoso!
Dominar as "artes domésticas" tem vantagens económicas incalculáveis, revela uma sensibilidades artística apurada, um domínio de técnicas que a massificação nos retirou e só nos empobrece e uma abertura de espírito que as chamadas actividades profissionais negam e impossibilitam,
Porque digo isto?
Porque já fui e tenho a certeza que, por muito tempo, continuarei a ser, confrontada com a incredulidade dos que pensam conhecer-me (tão intelectual, com formação académica superior...) perante o meu domínio das artes domésticas, que continuo a desenvolver (... sou autodidacta e sei pouco de tudo...) , que me dão imenso prazer e que me enchem de orgulho (colegas...)!

Beijos,
Nina

5 comentários:

  1. Endosso Nina!

    Rótulos e preconceitos já não cabem mais nos dias de hoje. Por que não podemos ser inteligentes e prendadas, ter um gosto sofisticado e gostar de fazer crochê, fazer com as próprias mãos um belo jantar e conhecer a arte de receber amigos em casa, ou ser uma estudiosa sobre determinado assunto teórico e cuidar do nosso prórpio jardim, com suas próprias mãos ou cozer o botão na camisa do marido. Uma coisa não anula a outra.

    Somos muitas em uma só, e adoro ser assim! Particularmente acho monótono me restringir a uma unica coisa na vida. Não conseguiria.

    Beijo,

    Ana Paula
    Salinha do Crochê

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  2. Nina,coberta de razão!Eu,que não pude desenvolver mais habilidades antes,além da formação intelectual,agora me delicio aprendendo aos poucos o que consigo e criando coisas com minhas mãos.É um poder!Mas a sociedade de consumo não gosta disso,quanto mais dependentes as pessoas em geral são,melhor para quem comercia ou "presta serviços"(a maioria por aqui,de baixa qualidade).Em relação aos homens também;meus irmãos conhecem e entendem de consertar tudo que você possa imaginar ,mas a maioria dos homens que conheço,mais jovens,não se viram sozinhos pra nada.São as transformações,inevitáveis,mas que nos deixam de acordo com nosso tempo.Cuidar melhor de nós e do mundo,agora que trabalhar é comum para todos.Se vivêssemos de "renda" ou sob controle familiar estaríamos,como antes,querendo escapar.
    Bjs,
    Eliana

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  3. Nina querida,

    lembro-me sim dos feitos feministas, inclusive daquele de andarem sem a camisa, como fazem os homens. Porém, sou aquela que aspirava por ficar todos os dias em casa. É claro que para ser mãe, enfermeira, psicóloga, cozinheira, costureira, etc, etc! Tinha em mente fazer trabalhos manuais em casa para cavar uns trocados e aliviar o peso das despesas, mas... não foi possível. Por isto é que agora estou flauteando e faço os "deveres" quando tenho ânimo, sem culpa! Creio sermos todas "meninas prendadas" até demais, somos partidárias do ecletismo.
    Você sempre aborda temas muito interessantes e expõe seus pareceres claramente, bacana viu?

    Beijão,
    Lu

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  4. Minha querida Nina, haveria tanto, tanto, mas tanto a dizer sobre este assunto...
    Bjs!

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  5. Acho que já não cabe mais na sociedade atual esse tipo de questionamento, todos lutamos pela sobrevivência e por uma situação financeira melhor, nos aperfeiçoando e isso inclui cuidar da casa, afinal é o nosso refúgio depois de um longo e cansativo dia de trabalho. Eu já exerci alto cargo administrativo, com diversas pessoas sob meu comando mas sempre gostei das coisas de casa. Bordar, costurar, tricotar, decorar e por muitas vêzes pintar as paredes. Não por necessidade, mas por puro prazer de fazer. Hoje luto para só fazer isso, em breve, espero que até o final deste ano deixe definitivamente de ser "mulher de negócios" para ser exclusivamente dona de casa. Não pretendo cozinhar, porque isso não gosto mesmo mas de resto tudo me dá imensa satisfação.
    Respondendo a pergunta, sim, você está entre meus blogs favoritos, gosto imensamente do que escreve com clareza e sabedoria. Bjs
    Joana

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